Diferentes momentos marcaram a visita
pastoral do papa Francisco à Turquia, que teve agenda intensa nos três dias da
peregrinação. O caráter ecumênico e inter-religioso foi intensificado nos
gestos do papa com as comunidades locais.
No domingo, 30, na sede do Patriarcado
de Constantinopla, o papa participou da Oração de vésperas da festa de Santo
André. Na ocasião, agradeceu ao patriarca Bartolomeu pela acolhida. “Que grande
graça, Santidade, poder ser irmãos na esperança do Senhor Ressuscitado! Que
grande graça – e que grande responsabilidade – poder caminhar juntos nesta
esperança, sustentados pela intercessão dos Santos irmãos Apóstolos André e Pedro!”.
O papa Francisco também participou de
missa privada na Representação Pontifícia de Istambul. Encontrou-se com o
Grão-Rabino da Turquia, Isak Haleva, responsável pela segunda maior comunidade
judaica em um país de maioria muçulmana, após o Irã.
Acordo de paz
Antes de retornar a Roma, o papa
reuniu-se com cem jovens refugiados assistidos pelos salesianos, na catedral do
Espírito Santo, em Istambul. “Queridos jovens, não desanimeis! Com a ajuda de
Deus, continuai a esperar num futuro melhor, apesar das dificuldades e
obstáculos que estais a enfrentar agora”, disse Francisco.
O momento esperado da viagem foi o
encontro do papa com o patriarca Bartolomeu. Eles assinaram uma “Declaração
Conjunta”. No texto, as lideranças pediram “esforço possível para se construir
uma cultura de paz e solidariedade entre as pessoas e entre os povos”.
Confira o texto na íntegra:
“Nós, Papa Francisco e Patriarca
ecumênico Bartolomeu I, expressamos a nossa profunda gratidão a Deus pelo dom
deste novo encontro, que nos permite celebrar juntos a Festa de São André, o
primeiro-chamado e irmão do apóstolo Pedro, na presença dos membros do Santo
Sínodo, do clero e dos fiéis do Patriarcado Ecumênico. A nossa recordação dos
Apóstolos, que proclamaram ao mundo a feliz notícia do Evangelho através da sua
pregação e do testemunho do martírio, revigora em nós o desejo de continuar a
caminhar juntos a fim de superarmos, com amor e confiança, os obstáculos que
nos dividem.
Por ocasião do encontro de maio passado
em Jerusalém, no qual recordamos o abraço histórico entre os nossos venerados
predecessores Paulo VI e Patriarca Ecumênico Atenágoras, assinamos uma
declaração conjunta. Hoje, na feliz ocasião de um novo encontro fraterno,
queremos reafirmar, juntos, as nossas intenções e preocupações comuns.
Expressamos a nossa intenção sincera e
firme de, em obediência à vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, intensificar os
nossos esforços pela promoção da unidade plena entre todos os cristãos, e
sobretudo entre católicos e ortodoxos. Além disso, queremos apoiar o diálogo
teológico promovido pela Comissão Mista Internacional – instituída, exatamente
há trinta e cinco anos, pelo Patriarca Ecumênico Dimitrios e o Papa João Paulo
II aqui, no Fanar –, a qual se encontra atualmente a tratar das questões mais
difíceis que marcaram a história da nossa divisão e que requerem um estudo
cuidadoso e profundo. Por esta finalidade, asseguramos a nossa oração fervorosa
como Pastores da Igreja, pedindo aos fiéis que se unam a nós na imploração
comum porque «todos sejam um só (...) para que o mundo creia» (Jo 17, 21).
Expressamos a nossa preocupação comum
pela situação no Iraque, na Síria e em todo o Médio Oriente. Estamos unidos no
desejo de paz e estabilidade e na vontade de promover a resolução dos conflitos
através do diálogo e da reconciliação. Ao mesmo tempo que reconhecemos os
esforços que já estão a ser feitos para dar assistência à região, apelamos a
quantos têm a responsabilidade dos destinos dos povos que intensifiquem o seu
empenho a favor das comunidades que sofrem, consentindo a todas, incluindo as
cristãs, de permanecerem na sua terra natal. Não podemos resignar-nos com um
Médio Oriente sem os cristãos, que ali professaram o nome de Jesus durante dois
mil anos. Muitos dos nossos irmãos e irmãs são perseguidos e, com a violência,
foram forçados a deixar as suas casas. Até parece que se perdeu o valor da vida
humana e que a pessoa humana já não tem importância alguma, podendo ser
sacrificada a outros interesses. E, tragicamente, tudo isto se passa perante a
indiferença de muitos.
Ora, como nos lembra São Paulo, «se um
membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os
membros participam da sua alegria» (1 Cor 12, 26). Esta é a lei da vida cristã
e, neste sentido, podemos dizer que há também um ecumenismo do sofrimento. Tal
como o sangue dos mártires foi semente de fortaleza e fecundidade para a
Igreja, assim também a partilha dos sofrimentos diários pode ser um instrumento
eficaz de unidade. A dramática situação dos cristãos e de todos aqueles que
sofrem no Médio Oriente exige não só uma oração constante, mas também uma
resposta apropriada por parte da comunidade internacional.
Os grandes desafios, que o mundo
enfrenta na situação atual, exigem a solidariedade de todas as pessoas de boa
vontade. Por isso, reconhecemos a importância também da promoção de um diálogo
construtivo com o Islã, assente no respeito mútuo e na amizade. Inspirados por
valores comuns e animados por um genuíno sentimento fraterno, muçulmanos e
cristãos são chamados a trabalhar, juntos, por amor da justiça, da paz e do
respeito pela dignidade e os direitos de cada pessoa, especialmente nas regiões
onde durante séculos viveram em coexistência pacífica e agora, tragicamente,
sofrem juntos os horrores da guerra. Além disso, como líderes cristãos,
exortamos todos os líderes religiosos a continuarem com maior intensidade o
diálogo inter-religioso e fazerem todo o esforço possível para se construir uma
cultura de paz e solidariedade entre as pessoas e entre os povos.
Recordamos também todos os povos que
sofrem por causa da guerra. Em particular, rezamos pela paz na Ucrânia, país
com uma antiga tradição cristã, e apelamos às partes envolvidas no conflito
para que procurem o caminho do diálogo e do respeito pelo direito internacional
para pôr fim ao conflito e permitir que todos os ucranianos vivam em harmonia.
Os nossos pensamentos voltam-se para
todos os fiéis das nossas Igrejas no mundo, que saudamos, confiando-os a
Cristo, nosso Salvador, para que possam ser incansáveis testemunhas do amor de
Deus. Erguemos a nossa fervorosa oração a Deus, pedindo-Lhe que conceda o dom
da paz, no amor e na unidade, a toda a família humana.
“O Senhor da paz, Ele próprio, vos dê a
paz, sempre e em todos os lugares. O Senhor esteja com todos vós” (2 Ts 3,16).
(Je)
Com informações e imagens do News.va.