Hino da Padroeira

domingo, 29 de março de 2015

Ramos, Paixão, Fraternidade

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Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a Igreja abre a Semana Santa. Também ocorre neste domingo a Coleta da Solidariedade – fruto de nossas penitências quaresmais e reflexão sobre o tema da Campanha da Fraternidade.
Nesta semana encerraremos o tempo da Quaresma e viveremos o ápice da liturgia católica no “tríduo pascal”. Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor traz a tradição da entrada em Jerusalém e a nossa profissão de fé solene, e a leitura da paixão, abrindo esta semana especial.
No Evangelho da bênção de ramos (Mc 11, 1-10 ou Jo 12, 12-16) vemos que o cortejo organizou-se rapidamente. Jesus faz a sua entrada em Jerusalém como Messias, montado num burrinho, conforme havia sido profetizado muitos séculos antes (Zc. 9,9). Jesus aceita a homenagem, e, quando os fariseus, que também conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria, o Senhor disse-lhes: “Eu vos digo, se eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19, 40).

Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montaria humilde: quer que demos testemunho d’Ele com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a nossa sincera preocupação pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através das circunstâncias do viver humano. Naquele cortejo triunfal, quando Jesus vê a cidade de Jerusalém, chora! Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira. O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como estes, um dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos depois a cidade será arrasada. Jesus chora a impenitência de Jerusalém. Como são eloquentes estas lágrimas de Cristo. O Papa Francisco, em sua homilia na abertura da Quaresma, na Quarta-feira de Cinzas lembrou que devemos pedir o “dom das lágrimas”.


Nessa Eucaristia solene que abre a Grande Semana da nossa fé, a Semana Santa, que culminará com a Solenidade da Páscoa, domingo próximo, fizemos memória da Entrada do Senhor Jesus em Jerusalém. Ele é o Filho de Davi, o Messias esperado por Israel, que vem tomar posse de sua Cidade Santa. Mas, que surpresa! É um Messias humilde, que entra não a cavalo, mas num humilde burrico, sinal de serviço e pequenez. Ei-lo: seu serviço será dar a vida pela multidão. Ele é Rei, mas rei coroado de espinhos e não de humana vanglória. Termos seguido o Senhor nessa solene procissão com ramos é tê-Lo reconhecido como nosso rei, rei pobre e humilde. Tê-Lo seguido é nos dispor a segui-Lo nas pobrezas e humildades da vida, dispondo-nos a participar de Sua paixão e cruz para ter parte na glória de Sua ressurreição. Trazer os ramos bentos nas mãos simboliza que cada um de nós quer acolher Jesus Cristo como Senhor de sua vida e professar solenemente a fé que nos distingue como católicos.
O Evangelho da Paixão (Mc 14,1-15,47) é hoje proclamado pela primeira vez na Semana Santa. Acolhendo a Palavra do Profeta Isaias (50, 4-7) que nos fala do servo sofredor, e da Carta aos Filipenses (2,6-11) com o belo hino cristológico, nos revela o espírito que deve reinar nesta última semana do tempo quaresmal, e como nos devemos preparar para a Páscoa que se aproxima.
O meio que Deus escolheu para nos salvar não foi o que é grande e vistoso, tão apreciado pelo mundo. Ao invés, o Pai nos salvou pela humilde obediência do Filho Jesus. Reconheçamos na voz do Servo Sofredor da primeira leitura a voz do Filho de Deus: “O Senhor Deus me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhes resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para arrancarem a barba. O Senhor é o meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, porque sei que não serei humilhado”. O Filho buscou, humildemente, na obediência de um discípulo, a vontade do Pai – e aí encontrou força e consolo, encontrou a certeza de sua vida. São Paulo, na segunda leitura de hoje, confirma isso com palavras não menos impressionantes: “Jesus Cristo, existindo na condição divina, esvaziou-se de si mesmo, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Neste mundo que se julga dono da verdade, desprezando os preceitos do Senhor Deus e seus planos para nós, aprendamos a humilde obediência de Cristo Jesus, entremos em comunhão com o Cristo obediente ao Pai até a morte. Só então seremos livres realmente, somente então viveremos de verdade!
Depois, o modo de Pedro, que “seguiu Jesus de longe”. Não se deve seguir Jesus de longe! Quem O segue assim? Quem pensa poder ser discípulo pela metade; quem se ilude, pensando seguir o Senhor sem combater seus vícios e pecados; quem imagina poder servir a Deus e ao dinheiro, ao Senhor e aos costumes e modos e pensamentos do mundo! Como terminarão estes? Farão o mesmo que Pedro naquele momento: “negando conhecer Jesus!” – Senhor, olha para nós como olhaste para Pedro; dá-nos o arrependimento e o pranto (dom das lágrimas) pela covardia e frieza em Te seguir! Faze-nos verdadeiros discípulos Teus, que Te sigam de perto até a cruz, como o Discípulo Amado, ao lado de Tua Santíssima Mãe!
Uma atitude bela e digna de um verdadeiro discípulo do Senhor: aquele gesto da misteriosa mulher que ungiu a cabeça do Senhor com nardo puro, caríssimo! São Marcos detalha: “Ela quebrou o vaso e derramou o perfume na cabeça de Jesus”. Quebrou o vaso, ou seja, derramou todo o perfume, sem reservas, sem pena, com abundância! Para o Senhor, tudo; para o Salvador, o melhor! E São João diz que “a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo” (Jo 12,3). Ó mulher feliz, discípula generosa! Dando tudo ao Senhor, perfumou toda a casa com o bom odor de um amor sem reservas! Senhor Jesus, faz-nos generosos para contigo! Que Te amemos como essa mulher: sem reservas, sem fazer contas! Ó Senhor, que nos amaste até o extremo, ensina-nos a Te amar assim também, colocando nossos perfumes, isto é, aquilo que temos de precioso, em especial as nossas vidas, a teus pés! Então, o mundo será melhor, porque o bom odor do amor haverá de se espalhar como testemunho da Tua presença!
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Neste domingo, somos chamados a um gesto concreto na conclusão da Campanha da Fraternidade, com a coleta especial, como nos ensina o Texto Base: “O primeiro gesto concreto de conversão quaresmal para os discípulos missionários é a participação na vida da comunidade que serve e celebra. O segundo é a oferta da doação em dinheiro na Coleta da Solidariedade, a ser realizada no Domingo de Ramos, dia 29 de março. Esta coleta é destinada aos pobres. Por meio deste gesto concreto, a Igreja dá testemunho de fraternidade e aponta o caminho cristão da partilha (cf. At 2,45) para a superação das grandes desigualdades presentes nas estruturas da sociedade brasileira” (Cf. Texto Base, CNBB, CF 2015, número 241).

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

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