Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
No
último domingo do mês de setembro (28) celebramos o Dia Nacional da Bíblia. A
Igreja no Brasil dedica este mês à Bíblia. Neste ano aprofundamos o tema:
“Discípulos Missionários a partir do Evangelho de Mateus”, motivados pelo lema:
“Ide fazer discípulos e ensinai”. A motivação deste mês temático vem do fato de
a Igreja celebrar em 30 de setembro a memória do grande santo e doutor da
Igreja, São Jerônimo, que, a pedido do Papa Dâmaso (366-384), preparou a
tradução da Bíblia em latim, a partir das línguas originais. Foi um trabalho
gigantesco, que demandou muitos anos e estudos. São Jerônimo dizia que quem não
conhece os Evangelhos não conhece Cristo.
São
Jerônimo (347-420), chamado de “Doutor Bíblico”, nasceu na Dalmácia e educou-se
em Roma; é um dos Padres da Igreja Latina; sabia o grego, o latim e o hebraico.
Viveu alguns anos na Palestina como eremita. Em 379, foi ordenado sacerdote
pelo bispo Paulino de Antioquia; foi ouvinte de São Gregório Nazianzeno e amigo
de São Gregório de Nissa. De 382 a 385 foi secretário do Papa São Dâmaso.
Pregava o ideal de santidade entre as mulheres da nobreza romana (Marcela,
Paula e Eustochium) e combatia os maus costumes do clero. Na figura de São
Jerônimo destacam-se a austeridade, o temperamento forte, o amor à Igreja e à Sé
de Pedro.
Conhecer
a Palavra de Deus é fundamental para todo cristão. A Carta aos hebreus diz que
“a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois
gumes, e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne
os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12). Jesus conhecia profundamente
o Antigo Testamento. Isso é o suficiente para que todos nós façamos o
mesmo. Na tentação do deserto, Ele venceu o demônio lançando em seu rosto, por
três vezes, a santa Palavra. Quando o tentador pediu que Ele
transformasse as pedras em pães para provar Sua filiação divina, Jesus lhe
disse: “O homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor”
(Dt 8,3c).
É
preciso acolher, ler e estudar a Bíblia todos os dias! O Papa Francisco insiste
sempre em levarmos no bolso (e nos aplicativos) um exemplar do Evangelho para
ler durante o dia onde quer que estejamos. Isso nos faz aquecer a alma com um
trecho dela; e saber usá-la nos momentos de dor, dúvida, angústia, medo etc.
Abra a Palavra, deixe Deus falar a seu coração. E fale com Deus; é a maneira
mais fácil de rezar (Leitura, Meditação, Oração e Contemplação). O Espírito
Santo nos ensina essa verdade pela boca do profeta Isaías; cuja boca tornou
“semelhante a uma espada afiada” (Is 49,2): “Tal como a chuva e a neve caem do
céu e para lá não voltam sem ter regado a terra, sem a ter fecundado e feito
germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à
Palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter
executado a minha vontade e cumprido a sua missão” (Is 55,10).
A
Palavra de Deus é transformadora, santificante! São Paulo explica isso a seu
jovem discípulo Timóteo, com toda convicção: “Toda a Escritura é inspirada por
Deus, e útil para ensinar, para persuadir, para corrigir e formar na justiça”
(2Tm 3,16). Ela é, portanto, um instrumento indispensável para a nossa
santificação. Não conseguiremos ter “os mesmos sentimentos de Cristo” (Fl 2,5)
sem ouvir, ler, meditar, estudar e conhecer a sua santa Palavra. São Jerônimo
dizia que “quem não conhece o Evangelho não conhece Jesus Cristo”. Jesus nos
ensina que “a Escritura não pode ser desprezada” (Jo 10,34). São Paulo
recomendava a Timóteo: “aplica-te à leitura da Palavra” (1Tm 4,13). Ela não é
palavra humana, mas “palavra de Deus... que age eficazmente em vós” (1Ts 2,13).
Jesus
é a própria Palavra de Deus, o Verbo de Deus que se fez carne (Jo 1,1s). “No
livro do Apocalipse, São João viu o Filho do homem”… “e de sua boca saía uma
espada afiada, de dois gumes” (Ap 1,16). É o símbolo tradicional da
irresistível penetração da Palavra de Deus. Além da leitura, é muito importante
aprofundar o conhecimento das escrituras. Cada ano, no Brasil, no Mês da Bíblia
somos convidados a aprofundar um dos livros bíblicos. É preciso estudar a
Bíblia, fazer um curso bíblico ou outros tipos de aprofundamento para que não
caiamos em fanatismos e fundamentalismos. Ela não é um livro de ciência, mas,
sim, da revelação da vontade de Deus para nossa salvação.
É
a Igreja quem tem o serviço de interpretar os textos bíblicos. E isso é feito
de maneira especial através do Sagrado Magistério, dirigido pela cátedra de
Pedro (o Papa), e da Sagrada Tradição Apostólica, que constitui o acervo
sagrado da Igreja e de tudo quanto o Espírito Santo lhe revelou no passado e
continua fazendo no presente. (Jo 14, 15.25; 16, 12-13). Conduzidos pelo
Espírito e alicerçados no Magistério poderemos caminhar com segurança,
acolhendo a Palavra de Deus em nossas vidas: “Quando vier o Paráclito, o
Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,13a).
Que
a leitura orante (lectio
divina) juntamente com o aprofundamento e conhecimento das Sagradas
Escrituras neste mês temático e em todos os dias das nossas vidas, nos ajude
ainda mais a amar as Escrituras e encontrar, na revelação, Jesus Cristo Nosso
Senhor, nossa vida e salvação. A Ele queremos seguir e anunciar aos irmãos e
irmãs. Ele é a Palavra que se fez carne e veio habitar no meio de nós! N’Ele
está a vida e a salvação!
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