No último sábado dia 05, foi realizado na Comunidade São Francisco das Chagas - Lourival Parente, um encontro de formação permanente para os catequistas da nossa Paróquia, as palestrantes foram as catequistas Luciana e Nairane da nossa comunidade Paroquial, e membros da equipe de formadores da Arquidiocese de Teresina. Confira na integra, o texto usado para a formação.
ARQUIDIOCESE DE TERESINA
COMISSÃO ARQUIDIOCESANA DE CATEQUESE
ENCONTRO ANUAL DE FORMAÇÃO CATEQUÉTICA – 2014
“Os desafios para transmissão da fé.”
SÍNTESE DO CONTEÚDO
Assessora: Ir. Graça Sabino- Regional NE 4 da CNBB - Setor
de Catequese
“Jesus:
Palavra Encarnada e Palavra Anunciada”.
INTRODUÇÃO
O tema do
Encontro anual é “os desafios para a transmissão da fé”. O tema desta nossa
reflexão é: “Jesus: Palavra Encarnada e Palavra Anunciada”. A
palavra pastoral vem de Pastor. Quem trabalha na
pastoral procura imitar Jesus, “o bom pastor” (Jo 10,11.14). Nesta reflexão
vamos ver de perto como era a animação bíblica da prática de Jesus como Pastor.
Buscar a
prática pedagógica de alguém é mergulhar na sua vida, no seu ambiente, nas suas
relações, na sua fala, nos desafios de sua caminhada, no seu pensamento. É
também entender a proposta que ele oferece aos que o escutam, bem como a sua
maneira de oferecer esta proposta. Enfim, a pedagogia de uma pessoa revela quem
ela é. Buscar a pedagogia de Jesus é entender o caminho que ele propôs, a
maneira de ele chamar as pessoas para trilhar este caminho e o modo como ele
mesmo trilhou este caminho.
Nesta
reflexão vamos olhar, em primeiro lugar, para a pessoa de Jesus, como ele mesmo
encarnou a Palavra em sua vida. Em segundo lugar, vamos olhar para o seu
relacionamento com as outras pessoas, como lhes anunciava a Palavra de Deus.
1. Como Jesus encarnava a Palavra de Deus em sua vida
Antes de
mais nada, é necessário lembrar um dado muito importante que condicionará tudo
que vamos dizer sobre a encarnação da Palavra em Jesus e sobre o anúncio que
ele fazia da mesma Palavra ao povo. Naquele tempo, ninguém tinha Bíblia em
casa. Só havia uma única Bíblia para todos na Sinagoga. Era no ambiente orante
comunitário tanto da Casa como da Sinagoga, que a Palavra era ouvida e
meditada, anunciada e praticada.
2. Em Jesus “a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14)
Cada um
de nós, pelo simples fato de nascer neste mundo, nasce num determinado lugar,
numa determinada família, num determinado povo. Nasce marcado de muitas
maneiras. Jesus também. A família, a cultura, a língua, o lugar do nascimento
afetam a vida da gente de alto a baixo. E estas coisas, ninguém as escolhe.
Elas fazem parte da existência humana. São o ponto de partida para qualquer
coisa que se queira fazer na vida. É o mistério da encarnação! Jesus assumiu
estes condicionamentos lá onde eles pesam mais, isto é, no meio dos pobres.
Jesus era um "filho do carpinteiro" (Mt 13,55). "Sendo de
condição divina, esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de empregado”, um
no meio de muitos (Fl 2,6-7; cf. 2Cor 8,9). "Ele foi provado como nós, em
todas as coisas, menos no pecado" (Hb 4,15). “Mesmo sendo filho de Deus,
teve que aprender pelo sofrimento o que vem a ser a obediência” (Hb 5,8).
A
encarnação da Palavra em Jesus foi um processo que se iniciou com o Sim obediente
de Maria e terminou com o último Sim de Jesus na cruz quando
disse: “Está tudo consumado” (Jo 19,30). Jesus deixou a Palavra de Deus entrar
dentro de si, e ela tomou conta de tudo. Ele dizia: “Eu faço sempre o que o Pai
me manda fazer” (Jo 12,50). “O meu alimento é fazer a vontade do Pai” (Jo
4,34). Fazer a vontade do Pai e cumprir a missão era o eixo da vida de Jesus.
Como diz a carta aos hebreus, citando o salmo: "Ao entrar no mundo
ele afirmou: “Eis me aqui! Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade!" (Hb
10,5.7; Sl 40,8-9). Jesus se deixou moldar pela Palavra a cada momento da sua
vida. Por isso podia dizer: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Como diz o povo
do menino que se parece com o pai: “É a cara do pai!”
Esta
encarnação da Palavra em Jesus não era automática, mas sim fruto de uma luta
que ele travava dentro de si para obedecer ao Pai em tudo. Jesus dizia:
"Por mim mesmo nada posso fazer: eu julgo segundo o que ouço" (Jo
5,30; 5,19). Não foi fácil. Para obedecer à Palavra do Pai, Jesus teve que
desobedecer várias vezes às autoridades religiosas da época. Ele teve momentos
difíceis, em que gritava: “Afasta de mim este cálice!” (Mc 14,36). Teve que
pedir a ajuda dos amigos (Mt 26,38.40). Teve que rezar muito para poder vencer
(Hb 5,7; Lc 22,41-46). Mas venceu! Ele mesmo o confirma: “Eu venci o mundo!”
(Jo 16,33). Como diz a carta aos Hebreus: “Durante a sua vida na terra, Cristo
fez orações e súplicas a Deus, em alta voz e com lágrimas, ao Deus que podia
salvá-lo da morte. E Deus o escutou, porque ele foi submisso”. (Hb 5,7).
3. As etapas do processo da encarnação da Palavra de Deus em Jesus
Os três
ambientes da formação de Jesus
·
Em CASA na família.
Na
segunda carta a Timóteo transparecem os costumes familiares daquele tempo.
Paulo diz: “Lembro-me da fé sincera que há em você (Timóteo), a mesma que havia
antes na sua avó Lóide, depois em sua mãe Eunice e que agora, estou convencido,
também há em você” (2Tim 1,5). E ainda: “Desde a infância você conhece as
Sagradas Escrituras; elas têm o poder de comunicar a sabedoria que conduz à
salvação pela fé em Jesus Cristo” (2Tim 3,15). A transmissão da fé nada mais
era do que a leitura orante ou a ruminação constante da Palavra de Deus na
convivência familiar. Esta mesma ruminação da Palavra transparece no Cântico de
Maria (Lc 1,46-55), todo recheado de citações de salmos e outras evocações
bíblicas. Sinal de que eles conheciam a Bíblia e rezavam os salmos a ponto de
conhecê-los até de memória.
·
Na SINAGOGA em comunidade
Todo
sábado Jesus participava da celebração da Palavra na sinagoga. Era o costume
dele (Lc 4,16). O conhecimento que tinha da Bíblia vinha destas reuniões
semanais na comunidade, onde se faziam duas leituras: da Lei e dos profetas (At
13,15). Em Nazaré, naquele sábado, Jesus fez a leitura do profeta Isaías (Lc
4,18,19; Is 61,1-2). Rabi Aquiba (Séc II) definiu as reuniões semanais com esta
frase lapidar: “O mundo repousa sobre três colunas: a Lei, o Culto e o
Amor”. A Lei é a Bíblia, o Culto é a reza
dos salmos, o Amor é a vontade de ajudar o próximo. Até hoje
as reuniões das nossas comunidades são assim.
·
No TEMPLO nas romarias com o povo
O ano
litúrgico, marcado pelas grandes festas de Páscoa, Pentecostes e Tendas,
mantinha no povo a memória das grandes etapas da sua história, narradas na
Bíblia. Mantinha viva a consciência da sua pertença ao povo de Deus. Aqui se
situam as romarias (Ex 23,14-17), nas quais Jesus participava desde doze anos
de idade e que o empolgavam tanto a ponto de permanecer em Jerusalém no meio
dos doutores para aprender mais as coisas de Deus, lembradas nas Escrituras (Lc
2,41-50).
Será que
hoje conseguimos criar para nós, dentro da nossa realidade e cultura, através
da nossa ação pastoral, um ritmo comunitário orante que seja diário, semanal e
anual e envolva a família, a comunidade e a paróquia? Este é o grande desafio
para nós que queremos retomar hoje o caminho de Jesus e sermos seus discípulos
e discípulas.
O contexto mais amplo do ambiente em que Jesus se formou
O contexto mais amplo do ambiente em que Jesus se formou
As propostas pedagógicas da época de Jesus
Conhecer
a prática pedagógica daquela época ajuda a entender melhor a prática pedagógica
de Jesus. Na sociedade judaica, no primeiro século da Era Cristã, os rabinos
eram os grandes educadores. Para exercer esta função, o candidato devia
freqüentar a Escola dos Escribas em Jerusalém (Eclo 51,23; At 22,3). Durante o
tempo de preparação, os candidatos deviam apropriar-se de um conteúdo básico
que incluía o estudo das Escrituras e da Tradição dos Antigos (Eclo 39,1-11).
Depois de formados, voltavam para suas aldeias e educavam as pessoas,
convivendo e compartilhando com elas os afazeres cotidianos. Dividiam seu dia
em três partes: oito horas para o estudo, oito horas para o trabalho e oito
horas para o descanso. Dando exemplo de uma vida disciplinada, os escribas eram
respeitados e temidos pelo povo da aldeia.
Na sua
prática educacional, os rabinos ocupavam os dois principais espaços da aldeia.
O primeiro espaço era o culto semanal na sinagoga. Aqui a leitura da Escritura
era feita em hebraico e a explicação para o povo era feita em aramaico. Esta
interpretação visava dar ao povo elementos necessários para viver a fé e, ao
mesmo tempo, resistir às forças desagregadoras da ocupação romana. Educar era
antes de tudo, preservar as tradições e não se deixar envolver pelas propostas
do mundo cultural greco-romano. O segundo espaço era a escola, que funcionava
junto à sinagoga (cf. At 15,21). Aqui o rabino era realmente um professor. Na
escola os meninos da aldeia aprendiam a ler e a escrever. As meninas estavam
excluídas. O estudo permitia que os meninos, aos treze anos, fizessem o rito de
iniciação chamado de Bar Mitzvah. Neste dia o menino, lendo e
interpretando uma passagem da Escritura diante de sua comunidade, demonstrava
ter o discernimento necessário para tomar decisões. A partir deste dia era
considerado um adulto. Portanto, a prática pedagógica dos rabinos visava a
maturidade das pessoas para que elas pudessem ser membros ativos da vida
social, participando das decisões tanto da aldeia quanto do país.
Ocupando
estes dois espaços numa pequena aldeia, o escriba tornava-se uma referencia
forte e obrigatória, metendo-se na vida de todos, opinando e interferindo,
mesmo quando não era chamado. Na verdade um rabino era a grande autoridade do
lugar. Ele podia entrar nas casas e vistoriar bens, comidas e roupas (Lv
14,33-56;Mt 23,14). Podia expulsar qualquer membro da comunidade que
apresentasse algum sintoma de “lepra” e que poderia colocar em risco a vida das
pessoas da comunidade (Lv 13,1-59). Sentado na cátedra da sinagoga (Mt 23,2),
ele definia o rumo da vida das pessoas colocadas sob sua guarda. Tinha muito
poder e sabia exercê-lo.
A escola de Jesus
Jesus não
teve a oportunidade, como o apóstolo Paulo, de estudar na escola superior de
Jerusalém com um doutor como Gamaliel (At 22,3). Dos trinta e três anos da sua
vida, ele passou mais de trinta no anonimato, em Nazaré, uma aldeia pequena e
sem importância (Jo 1,46). Lá ele viveu e se formou, aprendendo em casa com a
família e na comunidade com o povo (cf. Lc 2,52). Esta foi a ESCOLA de Jesus.
A escola
de Jesus era, antes de tudo, a vida em casa, na família,
onde vivia com os pais, obediente a eles (Lc 2,51). Mas é bom sabermos que
“família”, naquela época, reunia muita gente. Na verdade eram famílias
ampliadas, reunindo pessoas unidas por laços de parentesco e que hoje chamamos
de “clã”. Foi lá, no meio de muita gente, que ele aprendeu a amar, a andar, a
falar, a conviver, a rezar, a trabalhar, a pensar.
A escola
de Jesus era a Bíblia, lida na comunidade (sinagoga) e
ruminada em casa. Pelos evangelhos, como veremos mais adiante, a gente percebe
que Jesus conhecia muito bem a Bíblia. Se alguém juntar todas as alusões ou
citações que Jesus faz da Bíblia, perceberá que ele conhecia a Bíblia de cor e
salteado. Fruto da participação nas reuniões da comunidade, dos doze aos trinta
anos de idade, o tempo em que viveu em Nazaré. Do contrário, não teria chegado
a conhecer tão bem a Bíblia.
A escola
de Jesus era a Tradição, transmitida pelos escribas ou
doutores da lei. Jesus reconhece a autoridade dos escribas, os teólogos da
época. Mas avisa: "Façam o que eles dizem, mas não o que eles fazem!"
(Mt 23,3) Reconhece que eles transmitem a vontade de Deus. Mas denuncia: muita
coisa do que eles exigem não tem nada a ver com a vontade do Pai. Eles esvaziam
o mandamento de Deus (Mc 7,13). “Vocês abandonam o mandamento de Deus para
seguir a tradição dos homens." (Mc 7,8)
A escola
de Jesus era a convivência com o povo de Nazaré. Nazaré
era um povoado pequeno, onde todo mundo conhecia todo mundo. Eles conheciam
Jesus e a sua família (Mc 6,3). Jesus conhecia o povo (Jo 2,24-25). Nesta
convivência de mais de trinta anos aprendeu as inúmeras coisas que todos nós
aprendemos naturalmente, ao longo dos anos da vida: as tradições, os costumes,
as festas, os jogos, os cânticos, os tabus, as histórias, os medos, as doenças,
os poderes, os remédios.
A escola
de Jesus era o trabalho. Jesus se formou trabalhando.
Aprendeu a profissão de seu pai (Mt 13,55). A palavra carpinteiro que
define a profissão de Jesus dá a idéia de um artesão da comunidade. Jesus
servia ao povo de Nazaré como carpinteiro, pedreiro e ferreiro (Mc 6,3). Além
disso, como todo judeu do interior, trabalhava na roça como agricultor.
Carpintaria e Roça! Trabalho duro para viver e sobreviver. Na Galiléia a terra
não é ruim. Dá o suficiente para o povo viver. Mas os impostos eram altos e o
controle fiscal rígido. Havia muitos cobradores de impostos, chamados de
publicanos (Mc 2,14.15). O povo não tinha defesa contra o sistema que o
explorava.
A escola
de Jesus era o mundo. O povo da Galiléia tinha uma maneira
diferente de conviver com os outros povos. Era mais aberto e mais ecumênico que
o da Judéia, no Sul. A Galiléia estava cercada de cidades pagãs, todas elas
grandes centros comerciais: Damasco, Tiro, Sidônia, Ptolemaida, Cesaréia,
Samaria e a Decápole. Por isso, os judeus da Galiléia tinham mais contato com
os pagãos do que os da Judéia. Este contato mais freqüente com os outros povos
teve influência na formação de Jesus. Ele não se fecha nos limites históricos
de Israel e viaja para as regiões de Tiro e Sidônia (Mc 7, 24.31), da Decápole
(Mc 5,1.20; 7,31), de Cesaréia de Filipe (Mc 8,27) e de Samaria (Lc 17, 11).
Andando por esses lugares, ele conversa com o povo que os judeus mais fechados
consideravam impuro (Mc 7,24-29; Jo 4,7-42). Jesus reconhece o valor e a fé de
pessoas que não eram judias e aprende delas (Mt 8,10; 15,28).
A escola
de Jesus era a sua vida de intimidade com Deus, seu Pai.
Jesus rezava muito. Passava noites em oração (Lc 6,12). Na oração, procurava
saber o que o Pai queria dele (Mt 26,39). Na medida em que crescia nele a
intimidade com o Pai, crescia também a consciência de filho. Jesus adquiria um
olhar diferente para ler e entender a Bíblia e a vida. A Bíblia era lida e ensinada
pelos fariseus e escribas a partir de uma determinada idéia de Deus. Jesus, que
experimentava Deus como Pai, já não podia concordar com tudo que se ensinava na
sinagoga. Ele foi descobrindo que os apelos da vida humana falam tanto e até
mais de Deus do que todos os preceitos e doutrinas transmitidas pela Bíblia.
A prática pastoral de Jesus
A
palavra seguir é o termo que define a prática pastoral de
Jesus. Tal palavra indica o tipo especial de relacionamento entre Jesus,
chamado mestre, e os seus seguidores e seguidoras, chamados discípulos e discípulas.
Este relacionamento mestre-discípulo é muito diferente do relacionamento
professor-aluno. Seguindo o mestre, o discípulo aprende convivendo com ele. Só
entenderemos a prática pastoral de Jesus se entendermos sua prática formativa
desenvolvida na convivência com as pessoas que o seguiam. Formando uma
comunidade com seus discípulos, Jesus aponta como caminho pedagógico sua
prática de ser um com eles. Vamos destacar alguns passos deste método educativo
de convivência comunitária.
Uma pastoral que parte da realidade
Jesus
convida as pessoas à reflexão a partir das coisas ou dos fatos mais
corriqueiros. Salgar a comida (Mt5,13), acender uma lâmpada (Mt 5,14),
pescadores que puxam rede (Mt 13,47), camponeses semeando (Mt13,4), plantas que
crescem (Mt 13,31), pastores trabalhando (Lc 15,4), uma galinha choca que
protege seus pintainhos debaixo das asas (Mt 23,37), uma torre que cai sobre os
operários (Lc 13,4), mulher fazendo pão (Lc 13,20), filhos que saem de casa (Lc
15,13), brigas familiares (Mc 3,25), juízes corruptos (Lc 18,2), trabalhadores
desempregados (Mt 20,7), mendigos sentados nas portas (Lc 16,20), odres que se
rompem (Mc 2,22), roupas remendadas (Mt 9,16), festa de casamento (Mt 22,2)...
Qualquer situação humana é material suficiente para Jesus transmitir um
ensinamento. Sua pedagogia parte da observação, da realidade, do cotidiano.
Nada de decorar conteúdos ou raciocinar em cima de abstrações, mas de analisar
fatos e situações bem concretas. Partindo destas situações caseiras, Jesus
consegue se fazer entender por qualquer pessoa (Lc 10,21), permitindo que sua
mensagem atinja a todos, sem discriminação.
Uma pastoral participativa
Ao optar
pelo ensinamento através de parábolas, Jesus adota uma pastoral de participação
do ouvinte. A palavra parábola vem do grego e significa
“comparação”. Na verdade, parábola tenta traduzir o hebraico mashal.
Um mashal é mais do que uma comparação. Mashal é
uma sentença sapiencial, uma frase, um dito, um provérbio, enfim, o alicerce da
Sabedoria que define o pensamento próprio do povo de Israel (cf. Sl 78,1-8). Ao
adotar o mashal como instrumento pedagógico (Mc 4,33), Jesus
está sendo fiel ao pensamento e à cultura de seu povo. Ao construir suas historietas,
seus contos, seus “causos”, Jesus sabe que o mashal só se
completa com a reação e a participação do ouvinte. Desta forma, vemos que Jesus
faz sua opção por uma pedagogia participativa e de fácil acesso, sendo
compreendido por todos.
A
parábola provoca. Ela é uma forma participativa de ensinar, de educar. Não dá
tudo trocado em miúdo. Não faz saber, mas faz descobrir. Ela leva a pessoa a
refletir sobre a sua própria experiência de vida, e faz com que esta
experiência a leve a descobrir que Deus está presente no cotidiano, no
dia-a-dia. Esta era a novidade da Boa Nova trazida por Jesus, diferente dos
doutores que ensinavam que Deus só se manifestava na observância da lei. Jesus
diz: “O Reino está presente no meio de vocês!” (Lc 17,21). A parábola muda os
olhos, faz da pessoa uma observadora da realidade. Certa vez, um bispo
perguntou na comunidade: “Jesus falou que devemos ser como sal. Para que serve
o sal?” Discutiram e, no fim, encontraram mais de dez finalidades para o sal!
Aí foram aplicar tudo isto à própria comunidade e descobriram que ser
sal é difícil e exigente! A parábola funcionou e ajudou-os a dar um
passo. Jesus tinha uma capacidade muito grande de comparar as coisas de Deus
como as coisas mais simples da vida. Isto supõe duas coisas que marcam a
pedagogia de Jesus: estar bem por dentro das coisas da vida do povo, e estar
bem por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus.
Uma pastoral que cria comunidades
Uma pastoral que cria comunidades
Jesus
propõe um caminho. No seu esforço de ser um com seus discípulos e discípulas,
Jesus oferece a todos uma convivência. Nesta proposta ele não seleciona
pessoas. Acolhe a todos e todas. Sabe conviver com todos, transmitindo e
ensinando qualquer um que se proponha a ouvi-lo. Por outro lado, Jesus não
trata a todos por igual. Ele sabe distinguir as pessoas com métodos
particulares, conforme a situação peculiar de cada uma delas. Tanto Nicodemos
quanto a samaritana receberam um ensinamento sobre o batismo. Mas o diálogo de
Jesus com Nicodemos não é o mesmo que ele estabelece com a samaritana.
Ao longo
daqueles três anos, Jesus acompanha os discípulos e as discípulas. Ele é o
amigo (Jo 15,15) que convive com elas e eles, conversa com eles, come com eles,
anda com eles, alegra-se com eles, sofre com eles. É através desta convivência
pedagógica que os discípulos e as discípulas se formam. Muitos pequenos gestos
refletem o testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos
discípulos. O seu jeito de ser e de conviver com os amigos, de relacionar-se
com as pessoas e de acolher o povo que vinha falar com ele era a maneira de ele
dar forma humana à sua experiência de Deus como Pai.
Um ponto
importante nesta prática pastoral é saber delegar, engajar e envolver os
discípulos e discípulas na sua própria missão. Desde o primeiro momento do
chamado, ele os envolve na missão (Lc 9,1-2; 10,1). Devem ir, dois a dois, para
anunciar a chegada do Reino (Mt 10,7; Lc 10,1.9), curar os doentes (Lc 9,2),
expulsar os demônios (Mc 3, 15), anunciar a paz (Lc 10,5; Mt 10,13) e rezar
pela continuidade da missão (Lc 10,2). Ele os forma dentro da ação,
envolvendo-os na missão que ele mesmo estava realizando em obediência ao Pai.
Uma pastoral libertadora.
Uma pastoral libertadora.
Jesus vive e faz o que ensina e ninguém consegue
acusá-lo de algum pecado (Jo 8,46). Ele é livre e comunica liberdade aos que o
cercam (Jo 8,32-36), dando-lhes coragem de transgredir as tradições caducas dos
escribas e arrancar espigas no campo (Mt 12, 1-8). Com os discípulos e
discípulas cria relações intensas e profundas que ajudam as pessoas a crescer e
se libertar. Ele soube ser:
* Amigo, que comparte tudo, até
mesmo o segredo do Pai (Jo 15,15).
* Carinhoso, capaz de provocar
respostas fortes de amor (Lc 7,37-38; 8,2-3; Jo 21,15-17; Mc 14,3-9).
* Atencioso, preocupa-se com a alimentação
(Jo 21,9) e o descanso deles (Mc 6,31).
* Pacificador, inspira paz e
reconciliação (Jo 20,19; Mt 10,26-33; Mt 18,18-22; Mt 16,19).
* Comprometido, defende os
amigos quando são criticados pelos adversários (Mc 2,18-19; 7,5-13).
* Realista e observador,
desperta a atenção dos discípulos para as coisas da vida (Lc 8,4-8).
* Livre, desperta e provoca
liberdade e libertação (Mc 2,27; 2,18.23)
* Misericordioso, manso e
humilde, acolhe a todos, especialmente os pobres (Mt 11,28).
* Preocupado com a situação
do povo, esquece o próprio cansaço e acolhe o povo (Mt 9,36-38).
* Compreensivo, aceita os
discípulos do jeito que são, até mesmo a fuga, a negação e a traição, sem
romper com eles (Mc 14,27-28; Jn 6,67).
* Numa palavra, Jesus é humano, muito humano, tão
humano como só Deus pode ser humano!
Deste modo, pelo seu jeito de ser e pelo testemunho
de sua vida, Jesus encarnava o amor de Deus e o revelava aos discípulos (Mc
6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). Tornava-se para eles uma pessoa significativa que
os marcou pelo resto de sua vida como "caminho, verdade e vida" (Jo
14,6).
REFERÊNCIAS:
Bíblia de Jerusalém
Livros do CEBI -
CNBB
A
Palavra de Deus ecoa também nas CEB´s
Leitura
Orante da Bíblia
1º
Congresso de Animação Biblica-catequética
[1] Carlos Mesters e Francisco
Orofino
[1] Carlos Mesters e Francisco Orofino fazem parte
do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), entidade ecumênica criada em 1977 para
aprofundar, articular e intensificar a leitura da Bíblia que o povo já fazia
nas comunidades. O objetivo do CEBI é promover uma leitura libertadora da
Bíblia a serviço da pastoral popular das igrejas cristãs. Este escrito é fruto
de um trabalho nas Comunidades Eclesiais de base e grupos dos movimentos
populares.
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