Hino da Padroeira

domingo, 6 de abril de 2014

Formação permanente para catequistas


No último sábado dia 05,  foi realizado na Comunidade São Francisco das Chagas - Lourival Parente, um encontro de formação permanente para os catequistas da nossa Paróquia, as palestrantes foram as catequistas Luciana e Nairane da nossa comunidade Paroquial, e membros da equipe de formadores da Arquidiocese de Teresina. Confira na integra, o texto usado para a formação.  


ARQUIDIOCESE DE TERESINA
COMISSÃO ARQUIDIOCESANA DE CATEQUESE
ENCONTRO ANUAL DE FORMAÇÃO CATEQUÉTICA – 2014
“Os desafios para transmissão da fé.”

SÍNTESE DO CONTEÚDO

Assessora: Ir. Graça Sabino- Regional NE 4 da CNBB - Setor de Catequese

“Jesus: Palavra Encarnada e Palavra Anunciada”.

INTRODUÇÃO

O tema do Encontro anual é “os desafios para a transmissão da fé”. O tema desta nossa reflexão é: “Jesus: Palavra Encarnada e Palavra Anunciada”. A palavra pastoral vem de Pastor. Quem trabalha na pastoral procura imitar Jesus, “o bom pastor” (Jo 10,11.14). Nesta reflexão vamos ver de perto como era a animação bíblica da prática de Jesus como Pastor.
Buscar a prática pedagógica de alguém é mergulhar na sua vida, no seu ambiente, nas suas relações, na sua fala, nos desafios de sua caminhada, no seu pensamento. É também entender a proposta que ele oferece aos que o escutam, bem como a sua maneira de oferecer esta proposta. Enfim, a pedagogia de uma pessoa revela quem ela é. Buscar a pedagogia de Jesus é entender o caminho que ele propôs, a maneira de ele chamar as pessoas para trilhar este caminho e o modo como ele mesmo trilhou este caminho.
Nesta reflexão vamos olhar, em primeiro lugar, para a pessoa de Jesus, como ele mesmo encarnou a Palavra em sua vida. Em segundo lugar, vamos olhar para o seu relacionamento com as outras pessoas, como lhes anunciava a Palavra de Deus.

1. Como Jesus encarnava a Palavra de Deus em sua vida

Antes de mais nada, é necessário lembrar um dado muito importante que condicionará tudo que vamos dizer sobre a encarnação da Palavra em Jesus e sobre o anúncio que ele fazia da mesma Palavra ao povo. Naquele tempo, ninguém tinha Bíblia em casa. Só havia uma única Bíblia para todos na Sinagoga. Era no ambiente orante comunitário tanto da Casa como da Sinagoga, que a Palavra era ouvida e meditada, anunciada e praticada.

2. Em Jesus “a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14)

Cada um de nós, pelo simples fato de nascer neste mundo, nasce num determinado lugar, numa determinada família, num determinado povo. Nasce marcado de muitas maneiras. Jesus também. A família, a cultura, a língua, o lugar do nascimento afetam a vida da gente de alto a baixo. E estas coisas, ninguém as escolhe. Elas fazem parte da existência humana. São o ponto de partida para qualquer coisa que se queira fazer na vida. É o mistério da encarnação! Jesus assumiu estes condicionamentos lá onde eles pesam mais, isto é, no meio dos pobres. Jesus era um "filho do carpinteiro" (Mt 13,55). "Sendo de condição divina, esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de empregado”, um no meio de muitos (Fl 2,6-7; cf. 2Cor 8,9). "Ele foi provado como nós, em todas as coisas, menos no pecado" (Hb 4,15). “Mesmo sendo filho de Deus, teve que aprender pelo sofrimento o que vem a ser a obediência” (Hb 5,8).
A encarnação da Palavra em Jesus foi um processo que se iniciou com o Sim obediente de Maria e terminou com o último Sim de Jesus na cruz quando disse: “Está tudo consumado” (Jo 19,30). Jesus deixou a Palavra de Deus entrar dentro de si, e ela tomou conta de tudo. Ele dizia: “Eu faço sempre o que o Pai me manda fazer” (Jo 12,50). “O meu alimento é fazer a vontade do Pai” (Jo 4,34). Fazer a vontade do Pai e cumprir a missão era o eixo da vida de Jesus. Como diz a carta aos hebreus, citando o salmo: "Ao entrar no mundo ele afirmou: “Eis me aqui! Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vonta­de!" (Hb 10,5.7; Sl 40,8-9). Jesus se deixou moldar pela Palavra a cada momento da sua vida. Por isso podia dizer: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Como diz o povo do menino que se parece com o pai: “É a cara do pai!”
Esta encarnação da Palavra em Jesus não era automática, mas sim fruto de uma luta que ele travava dentro de si para obedecer ao Pai em tudo. Jesus dizia: "Por mim mesmo nada posso fazer: eu julgo segundo o que ouço" (Jo 5,30; 5,19). Não foi fácil. Para obedecer à Palavra do Pai, Jesus teve que desobedecer várias vezes às autoridades religiosas da época. Ele teve momentos difíceis, em que gritava: “Afasta de mim este cálice!” (Mc 14,36). Teve que pedir a ajuda dos amigos (Mt 26,38.40). Teve que rezar muito para poder vencer (Hb 5,7; Lc 22,41-46). Mas venceu! Ele mesmo o confirma: “Eu venci o mundo!” (Jo 16,33). Como diz a carta aos Hebreus: “Durante a sua vida na terra, Cristo fez orações e súplicas a Deus, em alta voz e com lágrimas, ao Deus que podia salvá-lo da morte. E Deus o escutou, porque ele foi submisso”. (Hb 5,7).

3. As etapas do processo da encarnação da Palavra de Deus em Jesus

Os três ambientes da formação de Jesus

·         Em CASA na família.
Na segunda carta a Timóteo transparecem os costumes familiares daquele tempo. Paulo diz: “Lembro-me da fé sincera que há em você (Timóteo), a mesma que havia antes na sua avó Lóide, depois em sua mãe Eunice e que agora, estou convencido, também há em você” (2Tim 1,5). E ainda: “Desde a infância você conhece as Sagradas Escrituras; elas têm o poder de comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo” (2Tim 3,15). A transmissão da fé nada mais era do que a leitura orante ou a ruminação constante da Palavra de Deus na convivência familiar. Esta mesma ruminação da Palavra transparece no Cântico de Maria (Lc 1,46-55), todo recheado de citações de salmos e outras evocações bíblicas. Sinal de que eles conheciam a Bíblia e rezavam os salmos a ponto de conhecê-los até de memória.

·         Na SINAGOGA em comunidade

Todo sábado Jesus participava da celebração da Palavra na sinagoga. Era o costume dele (Lc 4,16). O conhecimento que tinha da Bíblia vinha destas reuniões semanais na comunidade, onde se faziam duas leituras: da Lei e dos profetas (At 13,15). Em Nazaré, naquele sábado, Jesus fez a leitura do profeta Isaías (Lc 4,18,19; Is 61,1-2). Rabi Aquiba (Séc II) definiu as reuniões semanais com esta frase lapidar: “O mundo repousa sobre três colunas: a Lei, o Culto e o Amor”. A Lei é a Bíblia, o Culto é a reza dos salmos, o Amor é a vontade de ajudar o próximo. Até hoje as reuniões das nossas comunidades são assim.

·   No TEMPLO nas romarias com o povo

O ano litúrgico, marcado pelas grandes festas de Páscoa, Pentecostes e Tendas, mantinha no povo a memória das grandes etapas da sua história, narradas na Bíblia. Mantinha viva a consciência da sua pertença ao povo de Deus. Aqui se situam as romarias (Ex 23,14-17), nas quais Jesus participava desde doze anos de idade e que o empolgavam tanto a ponto de permanecer em Jerusalém no meio dos doutores para aprender mais as coisas de Deus, lembradas nas Escrituras (Lc 2,41-50).
Será que hoje conseguimos criar para nós, dentro da nossa realidade e cultura, através da nossa ação pastoral, um ritmo comunitário orante que seja diário, semanal e anual e envolva a família, a comunidade e a paróquia? Este é o grande desafio para nós que queremos retomar hoje o caminho de Jesus e sermos seus discípulos e discípulas.

O contexto mais amplo do ambiente em que Jesus se formou

As propostas pedagógicas da época de Jesus

Conhecer a prática pedagógica daquela época ajuda a entender melhor a prática pedagógica de Jesus. Na sociedade judaica, no primeiro século da Era Cristã, os rabinos eram os grandes educadores. Para exercer esta função, o candidato devia freqüentar a Escola dos Escribas em Jerusalém (Eclo 51,23; At 22,3). Durante o tempo de preparação, os candidatos deviam apropriar-se de um conteúdo básico que incluía o estudo das Escrituras e da Tradição dos Antigos (Eclo 39,1-11). Depois de formados, voltavam para suas aldeias e educavam as pessoas, convivendo e compartilhando com elas os afazeres cotidianos. Dividiam seu dia em três partes: oito horas para o estudo, oito horas para o trabalho e oito horas para o descanso. Dando exemplo de uma vida disciplinada, os escribas eram respeitados e temidos pelo povo da aldeia.
Na sua prática educacional, os rabinos ocupavam os dois principais espaços da aldeia. O primeiro espaço era o culto semanal na sinagoga. Aqui a leitura da Escritura era feita em hebraico e a explicação para o povo era feita em aramaico. Esta interpretação visava dar ao povo elementos necessários para viver a fé e, ao mesmo tempo, resistir às forças desagregadoras da ocupação romana. Educar era antes de tudo, preservar as tradições e não se deixar envolver pelas propostas do mundo cultural greco-romano. O segundo espaço era a escola, que funcionava junto à sinagoga (cf. At 15,21). Aqui o rabino era realmente um professor. Na escola os meninos da aldeia aprendiam a ler e a escrever. As meninas estavam excluídas. O estudo permitia que os meninos, aos treze anos, fizessem o rito de iniciação chamado de Bar Mitzvah. Neste dia o menino, lendo e interpretando uma passagem da Escritura diante de sua comunidade, demonstrava ter o discernimento necessário para tomar decisões. A partir deste dia era considerado um adulto. Portanto, a prática pedagógica dos rabinos visava a maturidade das pessoas para que elas pudessem ser membros ativos da vida social, participando das decisões tanto da aldeia quanto do país.
Ocupando estes dois espaços numa pequena aldeia, o escriba tornava-se uma referencia forte e obrigatória, metendo-se na vida de todos, opinando e interferindo, mesmo quando não era chamado. Na verdade um rabino era a grande autoridade do lugar. Ele podia entrar nas casas e vistoriar bens, comidas e roupas (Lv 14,33-56;Mt 23,14). Podia expulsar qualquer membro da comunidade que apresentasse algum sintoma de “lepra” e que poderia colocar em risco a vida das pessoas da comunidade (Lv 13,1-59). Sentado na cátedra da sinagoga (Mt 23,2), ele definia o rumo da vida das pessoas colocadas sob sua guarda. Tinha muito poder e sabia exercê-lo.

A escola de Jesus

Jesus não teve a oportunidade, como o apóstolo Paulo, de estudar na escola superior de Jerusalém com um doutor como Gamaliel (At 22,3). Dos trinta e três anos da sua vida, ele passou mais de trinta no anonimato, em Nazaré, uma aldeia pequena e sem importância (Jo 1,46). Lá ele viveu e se formou, aprendendo em casa com a família e na comunidade com o povo (cf. Lc 2,52). Esta foi a ESCOLA de Jesus.
A escola de Jesus era, antes de tudo, a vida em casa, na família, onde vivia com os pais, obediente a eles (Lc 2,51). Mas é bom sabermos que “família”, naquela época, reunia muita gente. Na verdade eram famílias ampliadas, reunindo pessoas unidas por laços de parentesco e que hoje chamamos de “clã”. Foi lá, no meio de muita gente, que ele aprendeu a amar, a andar, a falar, a conviver, a rezar, a trabalhar, a pensar.
A escola de Jesus era a Bíblia, lida na comunidade (sinagoga) e ruminada em casa. Pelos evangelhos, como veremos mais adiante, a gente percebe que Jesus conhecia muito bem a Bíblia. Se alguém juntar todas as alusões ou citações que Jesus faz da Bíblia, perceberá que ele conhecia a Bíblia de cor e salteado. Fruto da participação nas reuniões da comunidade, dos doze aos trinta anos de idade, o tempo em que viveu em Nazaré. Do contrário, não teria chegado a conhecer tão bem a Bíblia.
A escola de Jesus era a Tradição, transmitida pelos escribas ou doutores da lei. Jesus reconhece a autoridade dos escribas, os teólogos da época. Mas avisa: "Façam o que eles dizem, mas não o que eles fazem!" (Mt 23,3) Reconhece que eles transmitem a vontade de Deus. Mas denuncia: muita coisa do que eles exigem não tem nada a ver com a vontade do Pai. Eles esvaziam o mandamento de Deus (Mc 7,13). “Vocês abandonam o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens." (Mc 7,8)
A escola de Jesus era a convivência com o povo de Nazaré. Nazaré era um povoado pequeno, onde todo mundo conhecia todo mundo. Eles conheciam Jesus e a sua família (Mc 6,3). Jesus conhecia o povo (Jo 2,24-25). Nesta convivência de mais de trinta anos aprendeu as inúmeras coisas que todos nós aprendemos naturalmente, ao longo dos anos da vida: as tradições, os costumes, as festas, os jogos, os cânticos, os tabus, as histórias, os medos, as doenças, os poderes, os remédios.
A escola de Jesus era o trabalho. Jesus se formou trabalhando. Aprendeu a profissão de seu pai (Mt 13,55). A palavra carpinteiro que define a profissão de Jesus dá a idéia de um artesão da comunidade. Jesus servia ao povo de Nazaré como carpinteiro, pedreiro e ferreiro (Mc 6,3). Além disso, como todo judeu do interior, trabalhava na roça como agricultor. Carpintaria e Roça! Trabalho duro para viver e sobreviver. Na Galiléia a terra não é ruim. Dá o suficiente para o povo viver. Mas os impostos eram altos e o controle fiscal rígido. Havia muitos cobradores de impostos, chamados de publicanos (Mc 2,14.15). O povo não tinha defesa contra o sistema que o explorava.
A escola de Jesus era o mundo. O povo da Galiléia tinha uma maneira diferente de conviver com os outros povos. Era mais aberto e mais ecumênico que o da Judéia, no Sul. A Galiléia estava cercada de cidades pagãs, todas elas grandes centros comerciais: Damasco, Tiro, Sidônia, Ptolemaida, Cesaréia, Samaria e a Decápole. Por isso, os judeus da Galiléia tinham mais contato com os pagãos do que os da Judéia. Este contato mais freqüente com os outros povos teve influência na formação de Jesus. Ele não se fecha nos limites históricos de Israel e viaja para as regiões de Tiro e Sidônia (Mc 7, 24.31), da Decápole (Mc 5,1.20; 7,31), de Cesaréia de Filipe (Mc 8,27) e de Samaria (Lc 17, 11). Andando por esses lugares, ele conversa com o povo que os judeus mais fechados consideravam impuro (Mc 7,24-29; Jo 4,7-42). Jesus reconhece o valor e a fé de pessoas que não eram judias e aprende delas (Mt 8,10; 15,28).
A escola de Jesus era a sua vida de intimidade com Deus, seu Pai. Jesus rezava muito. Passava noites em oração (Lc 6,12). Na oração, procurava saber o que o Pai queria dele (Mt 26,39). Na medida em que crescia nele a intimidade com o Pai, crescia também a consciência de filho. Jesus adquiria um olhar diferente para ler e entender a Bíblia e a vida. A Bíblia era lida e ensinada pelos fariseus e escribas a partir de uma determinada idéia de Deus. Jesus, que experimentava Deus como Pai, já não podia concordar com tudo que se ensinava na sinagoga. Ele foi descobrindo que os apelos da vida humana falam tanto e até mais de Deus do que todos os preceitos e doutrinas transmitidas pela Bíblia.

A prática pastoral de Jesus

A palavra seguir é o termo que define a prática pastoral de Jesus. Tal palavra indica o tipo especial de relacionamento entre Jesus, chamado mestre, e os seus seguidores e seguidoras, chamados discípulos e discípulas. Este relacionamento mestre-discípulo é muito diferente do relacionamento professor-aluno. Seguindo o mestre, o discípulo aprende convivendo com ele. Só entenderemos a prática pastoral de Jesus se entendermos sua prática formativa desenvolvida na convivência com as pessoas que o seguiam. Formando uma comunidade com seus discípulos, Jesus aponta como caminho pedagógico sua prática de ser um com eles. Vamos destacar alguns passos deste método educativo de convivência comunitária.

Uma pastoral que parte da realidade

Jesus convida as pessoas à reflexão a partir das coisas ou dos fatos mais corriqueiros. Salgar a comida (Mt5,13), acender uma lâmpada (Mt 5,14), pescadores que puxam rede (Mt 13,47), camponeses semeando (Mt13,4), plantas que crescem (Mt 13,31), pastores trabalhando (Lc 15,4), uma galinha choca que protege seus pintainhos debaixo das asas (Mt 23,37), uma torre que cai sobre os operários (Lc 13,4), mulher fazendo pão (Lc 13,20), filhos que saem de casa (Lc 15,13), brigas familiares (Mc 3,25), juízes corruptos (Lc 18,2), trabalhadores desempregados (Mt 20,7), mendigos sentados nas portas (Lc 16,20), odres que se rompem (Mc 2,22), roupas remendadas (Mt 9,16), festa de casamento (Mt 22,2)... Qualquer situação humana é material suficiente para Jesus transmitir um ensinamento. Sua pedagogia parte da observação, da realidade, do cotidiano. Nada de decorar conteúdos ou raciocinar em cima de abstrações, mas de analisar fatos e situações bem concretas. Partindo destas situações caseiras, Jesus consegue se fazer entender por qualquer pessoa (Lc 10,21), permitindo que sua mensagem atinja a todos, sem discriminação.

Uma pastoral participativa

Ao optar pelo ensinamento através de parábolas, Jesus adota uma pastoral de participação do ouvinte. A palavra parábola vem do grego e significa “comparação”. Na verdade, parábola tenta traduzir o hebraico mashal. Um mashal é mais do que uma comparação. Mashal é uma sentença sapiencial, uma frase, um dito, um provérbio, enfim, o alicerce da Sabedoria que define o pensamento próprio do povo de Israel (cf. Sl 78,1-8). Ao adotar o mashal como instrumento pedagógico (Mc 4,33), Jesus está sendo fiel ao pensamento e à cultura de seu povo. Ao construir suas historietas, seus contos, seus “causos”, Jesus sabe que o mashal só se completa com a reação e a participação do ouvinte. Desta forma, vemos que Jesus faz sua opção por uma pedagogia participativa e de fácil acesso, sendo compreendido por todos.
A parábola provoca. Ela é uma forma participativa de ensinar, de educar. Não dá tudo trocado em miúdo. Não faz saber, mas faz descobrir. Ela leva a pessoa a refletir sobre a sua própria experiência de vida, e faz com que esta experiência a leve a descobrir que Deus está presente no cotidiano, no dia-a-dia. Esta era a novidade da Boa Nova trazida por Jesus, diferente dos doutores que ensinavam que Deus só se manifestava na observância da lei. Jesus diz: “O Reino está presente no meio de vocês!” (Lc 17,21). A parábola muda os olhos, faz da pessoa uma observadora da realidade. Certa vez, um bispo perguntou na comunidade: “Jesus falou que devemos ser como sal. Para que serve o sal?” Discutiram e, no fim, encon­traram mais de dez finalidades para o sal! Aí foram aplicar tudo isto à própria comunidade e desco­briram que ser sal é difícil e exigente! A parábola funcionou e ajudou-os a dar um passo. Jesus tinha uma capacidade muito grande de comparar as coisas de Deus como as coisas mais simples da vida. Isto supõe duas coisas que marcam a pedagogia de Jesus: estar bem por dentro das coisas da vida do povo, e estar bem por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus.

Uma pastoral que cria comunidades

Jesus propõe um caminho. No seu esforço de ser um com seus discípulos e discípulas, Jesus oferece a todos uma convivência. Nesta proposta ele não seleciona pessoas. Acolhe a todos e todas. Sabe conviver com todos, transmitindo e ensinando qualquer um que se proponha a ouvi-lo. Por outro lado, Jesus não trata a todos por igual. Ele sabe distinguir as pessoas com métodos particulares, conforme a situação peculiar de cada uma delas. Tanto Nicodemos quanto a samaritana receberam um ensinamento sobre o batismo. Mas o diálogo de Jesus com Nicodemos não é o mesmo que ele estabelece com a samaritana.
Ao longo daqueles três anos, Jesus acompanha os discípulos e as discípulas. Ele é o amigo (Jo 15,15) que convive com elas e eles, conversa com eles, come com eles, anda com eles, alegra-se com eles, sofre com eles. É através desta convivência pedagógica que os discípulos e as discípulas se formam. Muitos pequenos gestos refletem o testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos. O seu jeito de ser e de conviver com os amigos, de relacionar-se com as pessoas e de acolher o povo que vinha falar com ele era a maneira de ele dar forma humana à sua experiência de Deus como Pai.
Um ponto importante nesta prática pastoral é saber delegar, engajar e envolver os discípulos e discípulas na sua própria missão. Desde o primeiro momento do chamado, ele os envolve na missão (Lc 9,1-2; 10,1). Devem ir, dois a dois, para anunciar a chegada do Reino (Mt 10,7; Lc 10,1.9), curar os doentes (Lc 9,2), expulsar os demônios (Mc 3, 15), anunciar a paz (Lc 10,5; Mt 10,13) e rezar pela continuidade da missão (Lc 10,2). Ele os forma dentro da ação, envolvendo-os na missão que ele mesmo estava realizando em obediência ao Pai.

Uma pastoral libertadora.

Jesus vive e faz o que ensina e ninguém consegue acusá-lo de algum pecado (Jo 8,46). Ele é livre e comunica liberdade aos que o cercam (Jo 8,32-36), dando-lhes coragem de transgredir as tradições caducas dos escribas e arrancar espigas no campo (Mt 12, 1-8). Com os discípulos e discípulas cria relações intensas e profundas que ajudam as pessoas a crescer e se libertar. Ele soube ser:
Amigo, que comparte tudo, até mesmo o segredo do Pai (Jo 15,15).
Carinhoso, capaz de provocar respostas fortes de amor (Lc 7,37-38; 8,2-3; Jo 21,15-17; Mc 14,3-9).
Atencioso, preocupa-se com a alimentação (Jo 21,9) e o descanso deles (Mc 6,31).
Pacificador, inspira paz e reconciliação (Jo 20,19; Mt 10,26-33; Mt 18,18-22; Mt 16,19).
Comprometido, defende os amigos quando são criticados pelos adversários (Mc 2,18-19; 7,5-13).
Realista e observador, desperta a atenção dos discípulos para as coisas da vida (Lc 8,4-8).
Livre, desperta e provoca liberdade e libertação (Mc 2,27; 2,18.23)
Misericordioso, manso e humilde, acolhe a todos, especialmente os pobres (Mt 11,28).
Preocupado com a situação do povo, esquece o próprio cansaço e acolhe o povo (Mt 9,36-38).
Compreensivo, aceita os discípulos do jeito que são, até mesmo a fuga, a negação e a traição, sem romper com eles (Mc 14,27-28; Jn 6,67).
* Numa palavra, Jesus é humano, muito humano, tão humano como só Deus pode ser humano!
Deste modo, pelo seu jeito de ser e pelo testemunho de sua vida, Jesus encarnava o amor de Deus e o revelava aos discípulos (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). Tornava-se para eles uma pessoa significativa que os marcou pelo resto de sua vida como "caminho, verdade e vida" (Jo 14,6).

REFERÊNCIAS:
             Bíblia de Jerusalém
Livros do CEBI - CNBB
A Palavra de Deus ecoa também nas CEB´s
Leitura Orante da Bíblia
1º Congresso de Animação Biblica-catequética
 [1] Carlos Mesters e Francisco Orofino


[1] Carlos Mesters e Francisco Orofino fazem parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), entidade ecumênica criada em 1977 para aprofundar, articular e intensificar a leitura da Bíblia que o povo já fazia nas comunidades. O objetivo do CEBI é promover uma leitura libertadora da Bíblia a serviço da pastoral popular das igrejas cristãs. Este escrito é fruto de um trabalho nas Comunidades Eclesiais de base e grupos dos movimentos populares.



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