O episódio do milagre
dos pães e peixes no Evangelho de João é cheio de simbolismo. Jesus é o novo
Moisés: ele atravessa o mar rumo à liberdade e sobe ao monte para mostrar o
sentido profundo dos mandamentos do Êxodo, que é a vida em abundância para todos
a partir dos pequenos.
Estando próxima a festa da
Páscoa, que era celebrada na capital Jerusalém, Jesus faz o caminho contrário,
atravessando o mar da Galileia em direção aos povos pagãos. Ele propõe, assim,
uma nova Páscoa, diferente, já não centralizada no templo, mas celebrada em
torno à sua pessoa.
Jesus é sensível às necessidades
da multidão que o segue. E, pondo à prova Felipe, provoca a todos nós hoje,
responsabilizando-nos também pela solução da fome: “Onde vamos comprar pão para
todos?”
André é a figura dos discípulos
que dão atenção aos pequenos, à gente sem importância, representada pelo menino
com cinco pães e dois peixes. Mas, mesmo atento aos pequenos, ele não consegue
enxergar que a solução do problema vem por meio de quem nada conta.
Cinco pães e dois peixes,
totalizando sete, é o número bíblico perfeito. Jesus pede que os discípulos
façam a multidão acomodar-se na relva. É um banquete sem mesa, pois o que Jesus
fará em seguida é saciar a fome da multidão, tornando-se ele mesmo a mesa em
torno à qual o povo se reúne para celebrar a vida da nova aliança com Deus,
aceitando a oferta da criança.
Dando graças a Deus pelo alimento
e distribuindo-o em primeira pessoa à multidão, Jesus se torna ele mesmo pão
que alimenta, no banquete onde o pouco se distribui e nada se perde e onde a
popularidade fácil não tem vez.
A nova Páscoa, que o Mestre vai
inaugurar com sua morte e ressurreição, é a celebração de Jesus que se doa a si
mesmo para a vida eterna. Mas é também o compromisso sério para cada seguidor:
ser sensível à necessidade material das pessoas, acreditar na força dos
pequenos e, sobretudo, apostar numa lógica diferente, na qual não é preciso
juntar para depois repartir. Na eucaristia, aliás, entregamos o pouco que somos
e temos, para que Jesus seja o alimento para a vida de todos.
Pe.
Paulo Bazaglia, ssp
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