Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)
Têm-se repetido, no país,
atitudes agressivas contra a Igreja Católica no que diz respeito ao direito de
praticar sua fé que inclui a veneração (não adoração) de imagens. Não entrarei
aqui na discussão dos argumentos sobre a legitimidade bíblica e histórica a
respeito do uso ou não de tais símbolos, mesmo porque, no meu entender, a
questão já foi resolvida no II Concílio de Nicéia, no ano de 787, e seria
perder o tempo e a paz, ficar discutindo algo já definido por cristãos do
oriente e do ocidente.
No caso atual em nosso
país, trata-se de um problema sério que fere a legislação a respeito da
liberdade religiosa. Não há dúvida que nossos governantes devem estar atentos
para que não se desenvolva um clima de odium religionis e isto venha a terminar
numa verdadeira guerra entre adeptos de crenças diferentes, o que não
interessaria a ninguém.
Quarta feira, dia 16 de
julho, festa de Nossa Senhora do Carmo, aconteceu mais um ato de vandalismo
religioso, o terceiro em poucas semanas, desta vez na cidade de Sacramento-MG.
Um rapaz de 20 anos que se apresentou como evangélico quebrou as imagens de uma
igreja, destruindo inclusive peças de grande valor artístico tombadas por
órgãos governamentais de proteção ao patrimônio histórico. Aprisionado, o tal
rapaz se disse doente mental, tendo sido até mesmo internado em clínica para
tratamento desta natureza. Geralmente, quando acontecem estes desrespeitosos
atos de violência e fanatismo, aparece um advogado para defender o réu com tal
argumentação e tudo fica por isso mesmo.
Certo é que os casos de
agressão religiosa deste tipo, e desrespeito à crença alheia, têm sido
praticados por pessoas que se dizem evangélicas. Não temos notícias, s.m.j, de
católicos que tenham invadido igrejas não católicas para praticar agressões por
motivos religiosos, nem mesmo sendo doentes mentais saídos de alguma clínica.
Isto não quer dizer que os católicos sejam melhores que os evangélicos e nem
que os evangélicos sejam melhores que os católicos, mesmo porque os evangélicos
autênticos nunca fariam tais agressões, pois qualquer vandalismo, desrespeito,
atitudes violentas e preconceituosas não são evangélicas e seria um
contra-senso. As atitudes iconoclastas praticadas em várias partes do Brasil
ultimamente têm sido condenadas por Pastores evangélicos e outros membros de
várias correntes não católicas, o que nos dá a certeza de que os vândalos que
invadem igrejas ou quebram imagens não são verdadeiros evangélicos, mas muito
mais usurpadores deste nome. Estou convicto de que, se houver algum Pastor que
incentivasse isto, certamente não encontraria apoio em seus irmãos de crença
que sejam sérios. Seriam, inclusive, co-autores do ato criminoso.
Tenho muitos amigos
evangélicos, inclusive vários Pastores de mentalidade aberta e de espírito
respeitoso que se reúnem comigo para a oração e para iniciativas
inter-confessionais em favor da vida, dos bons costumes e dos princípios
cristãos. O Movimento Ecumênico é belamente praticado hoje no Brasil e no mundo
por Igrejas Evangélicas, Ortodoxas e Católica através do CONIC (Conselho
Mundial das Igrejas Cristãs). A ele a CNBB tem dado total apoio. Também o
movimento EnCristus, bem como outras iniciativas, têm sido uma bênção de Deus
neste caminho de respeitosos diálogo. Motiva-nos a fé em Jesus Cristo e a
certeza de que o que nos une é muito mais forte do que o que nos separa.
Além do perdão que nós
católicos oferecemos aos nossos agressores, penso que todos os que cremos em o
nome de Jesus, devemos colaborar para que atitudes como estas sejam totalmente
eliminadas dentre nós. Afinal Jesus nos ensina com sua oração: Pai, que todos
sejam um como eu e tu somos um, para que o mundo creia (Jo.17,21); e ainda:
Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado.(Jo.15,12).
Além disso, que as
autoridades governamentais tomem atitudes que defendam o direito dos
brasileiros de praticarem livre e pacificamente a sua fé.
Fonte> http://www.cnbb.org.br
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