O tempo do Natal, que de
algum modo inclui os trinta anos da vida oculta de Jesus em Nazaré, acaba com a
festa do Batismo do Senhor, celebrada em 9 de janeiro (no Brasil adiada para o
domingo seguinte). A partir dessa data, a Igreja considera os mistérios da vida
pública de Jesus. Depois de João Batista ter preparado as almas, cumprindo a
sua missão de precursor, Jesus manifesta-se como Deus e Salvador. A vida
pública do Senhor tem início, propriamente, quando Jesus se submete ao rito de
penitência que João ministrava no Rio Jordão.

Em Cristo, a humanidade inteira desceu às águas para realizar o verdadeiro êxodo da morte para a vida; n´Ele, todos nós fomos chamados a renovar, cada dia, a opção pelo nosso batismo, que recebemos na água e no Espírito, para nos conformamos cada vez mais com a Sua imagem. Isso comporta o constante reconhecimento do nosso pecado, a humildade de nos dispormos a pedir sinceramente perdão, para recebermos o dom do Espírito Santo que nos torna capazes de caminhar em novidade de vida, segundo o mandamento do amor.
Dessa maneira, saboreamos a
alegria que o mundo não conhece nem pode dar: a alegria de sermos também nós,
em Cristo, filhos do único Pai. Essa é a maior dignidade, que nos torna para
sempre preciosos aos seus olhos.
A igualdade da condição
batismal faz de nós todos, sacerdotes, profetas e reis. Em Cristo, a humanidade
inteira desceu as águas para realizar o verdadeiro êxodo da morte para a vida.
De acordo com a Exortação Apostólica Verbum Domini, “os fieis leigos são chamados a exercer a sua missão profética, que deriva diretamente do batismo, e testemunhar o Evangelho na vida diária, onde quer que se encontrem. [...] O Sínodo reconhece, com gratidão, que os movimentos eclesiais e as novas comunidades constituem, na Igreja, uma grande força para a evangelização neste tempo, impelindo a desenvolver novas formas de anúncio do Evangelho”.
Com a Iniciação Cristã,
ficou muito claro para a missão pastoral da Igreja a importância de redescobrir
o Batismo e levar as pessoas a vivê-lo. O Grande Plano de Pastoral deveria ser
após o Querigma, o aprofundamento da fé daquele que foi batizado para ser
testemunha de Cristo Ressuscitado.
Com a Festa do Batismo de Jesus, continua o ciclo das manifestações do Senhor, que teve início no Natal, com o nascimento em Belém do Verbo Encarnado, e uma etapa importante na Epifania, quando o Messias se manifestou aos povos. No dia do Batismo, Jesus se revela, às margens do Jordão, a João e ao povo de Israel. É a primeira ocasião em que Ele, como homem adulto, entra na vida pública após ter deixado Nazaré.
No Jordão, Jesus manifesta-se com uma extraordinária humildade, que evoca a pobreza e a simplicidade do Menino Deus colocado na manjedoura, e antecipa os sentimentos com os quais, ao término de seus dias terrenos, chegará a lavar os pés dos discípulos e sofrerá a humilhação terrível da cruz.
O Filho de Deus, Aquele que não tem pecado, coloca-se entre os pecadores, mostra a proximidade de Deus no caminho de conversão do homem. Jesus assume sobre si o peso da culpa de toda a humanidade, inicia a sua missão, colocando-se no lugar dos pecadores, na perspectiva da cruz. O evangelista Lucas narra que, quando Jesus foi batizado, o “céu se abriu e desceu sobre ele o Espírito Santo (3,21-22)” e uma voz disse: “Tu és o meu filho, eu, hoje, te gerei”. Naquele momento, o Pai, o Filho e o Espírito Santo descem entre os homens e nos revelam o seu amor que salva. Se forem os anjos a levar aos pastores o anúncio do nascimento do Salvador, e a estrela aos Reis Magos do Oriente, agora é a voz de Deus que indica aos homens a presença no mundo de seu Filho e os convida a olhar para a ressurreição, para a vitória de Cristo sobre o pecado e sobre a morte.
Que a festa do Batismo do Senhor nos ajude a reanimar o nosso próprio Batismo, como pertença à comunidade dos fieis. Não apenas uma participação numérica ou censitária, mas uma presença efetiva, de discípulos-missionários, colocando na vida diária a ação do Espírito Santo que é derramado. Assim, nos tornamos herdeiros da vida divina, com Cristo, que nos chama a serem no mundo suas testemunhas e participantes da grande assembleia dos fieis, a Mãe Igreja.
Texto de Dom João Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro.
Fonte:
Revista Ave Maria, ano 114, Janeiro, pág. 20 a 21.
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