Hino da Padroeira

quarta-feira, 9 de março de 2016

Carta aberta da Jufra regional em virtude do Dia Internacional da Mulher

Assinada por Jéssica Lima, Jufra/OFS, da Fraternidade Imaculada Conceição (Morada Nova), Teresina/PI, Secretária Fraterna (Presidente) Regional da Jufra Nordeste A2 (CE/PI)


“Judeus e gregos, homens e mulheres, escravos e pessoas livres, todos somos iguais e unidos em Cristo” (Gl 3, 28).


Teresina/PI, 08 de Março de 2016, Dia Internacional pela Luta da Mulher!


Olá Jufristas dos Estados do Ceará e Piauí


Iniciamos essa carta provocando em todos os jufristas a necessidade de conhecer a história desse dia, marcado não de alegria, mas de opressão, silêncio e coragem. É preciso fazermos memória a essa data que, para lá de comercial, retrata um momento muito doloroso, porém corajoso na história das mulheres que nos antecederam.


Contexto histórico¹

Em Nova York, no ano de 1857, mulheres que trabalhavam numa fábrica foram reivindicar melhores condições de trabalho, visto que elas trabalhavam por volta de 16h e ganhavam 1/3 do que os homens ganhavam, mesmo sem dignidade e segurança no trabalho. Juntaram-se e reivindicaram melhorias. Em troca, foram presas na fábrica e vítimas de um incêndio provocado pelos empregadores. Nesse episódio, morreram 129 mulheres carbonizadas. Em 1975, a ONU reconheceu essa data como Dia Internacional de Luta pela Mulher, provocando em nós a reflexão sobre a necessidade de igualdade social, política e de trabalho. 


Em 1977, a Unesco reconheceu essa data em memória ao referido incêndio. Porém, não podemos deixar de destacar que nesse período (um século do incêndio ao reconhecimento da data) milhões de mulheres foram silenciadas em contexto parecido e em todo o mundo. Afirmamos: a memória de luta é de todas as mulheres! Aquelas que foram perpetuadas por um jornal da época e as que não foram.


Todos somos iguais e unidos em Cristo

Passam os dias e com eles a certeza que a luta pela igualdade da mulher é um problema sociológico que envolve questões culturais e históricos. Considerando que em toda a história o mundo foi dominado por homens, justo é considerá-la um problema político também. No aspecto religioso, compreendendo que a maioria das religiões silenciou seu papel claramente positivo e profético, cabe, no mínimo, uma provocação espiritual e teológica.


Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, é grande a sua fé. Seja feito como você quer” (Mt 15, 28a).


Ao analisarmos a genealogia de Jesus Cristo, somos tomados por exemplos de mulheres que marcam fortemente a história de luta do povo de Deus (ver história de Rute). Aos analisarmos o tempo de vida de Jesus nos vem o nome de Maria, Maria Madalena, Marta, Verônica, Isabel e mulheres não nomeadas, como ‘a samaritana’, ‘a cananeia’, ‘viúva de Naim’, ‘a mulher encurvada’, etc.



Jesus interfere na ordem da sociedade patriarcal, desperta a potencialidade da mulher, a chama para ser também suas discípulas e isto aconteceu.


“Ao insistir que todas as pessoas são filhas de Deus, o Cristianismo diminuiu o sofrimento de mulheres que, em algumas culturas no mundo antigo, nem eram consideradas pessoas humanas plenas ou completas. No entanto, no decorrer da história, as Igrejas foram cúmplices e, muitas vezes, legitimaram a discriminação da mulher, assim como conviveram e até exploraram a escravidão, o racismo e o colonialismo. Até certos textos bíblicos, lidos de forma literal e sem contextualização, acabam servindo para legitimar a discriminação. ” (Marcelo Barro – CEBI, 2015)


O que o Papa Francisco nos diz?

“As tantas formas de escravidão, de mercantilização, de mutilação do corpo das mulheres nos comprometem, portanto, a trabalhar para derrotar esta forma de degradação que o reduz a um puro objeto de venda nos vários mercados. Desejo chamar à atenção, neste contexto, a dolorosa situação de tantas mulheres pobres, obrigadas a viver em condições de perigo, de exploração, relegadas às margens das sociedades e vítimas de uma cultura do descartável”.


Quanto ao papel da mulher na Igreja, o Papa se diz convicto da urgência de oferecer espaços às mulheres, levando em consideração as específicas e diversificadas sensibilidades culturais e sociais. “É desejável, portanto, uma presença feminina mais ramificada e incisiva nas comunidades, de modo que possamos ver muitas mulheres envolvidas nas responsabilidades pastorais, no acompanhamento de pessoas, famílias e grupos, assim como na reflexão teológica”.


Por fim, o Papa Francisco encorajou ainda a presença eficaz das mulheres na esfera pública, no mundo do trabalho e nos locais onde são adotadas as decisões mais importantes. “Todas as instituições, inclusive a comunidade eclesial, são chamadas a garantir a liberdade de escolha para as mulheres, para que tenham a possibilidade de assumir responsabilidades sociais e eclesiais, num modo harmônico com a vida familiar”.
(Rádio Vaticano, 2015)


Tem mais

Outros papas também se dedicaram a reconhecer a força moral da mulher e a sua força espiritual a Igreja e no mundo. O documento que mais se destacou nesse aspecto é a Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, do Beato João Paulo II. O documento histórico é o primeiro do Magistério pontifício dedicado inteiramente à temática da mulher.


O Papa Bento XVI foi outro que destacou a importância da mulher na história. A palavra “mulher” pode ser encontrada em mais de 700 documentos dele, entre discursos, homilias, audiências, entre outros momentos como Bispo de Roma. Entre os anos de 2010 e 2011, ele até fez uma série de catequeses sobre a contribuição espiritual e social de santas e beatas da Igreja, entre elas Santa Tereza d’Ávila, Santa Joana D’Arc, Santa Clara de Assis, Santa Teresinha do Menino Jesus e Santa Catarina de Sena. (Rádio Vaticano, 2015)


Realidade social e atual²

Mulheres do mundo inteiro ainda são oprimidas silenciadas, sejam na negação de direitos básicos, seja como as vítimas mais afetadas pelo capital ou pelas guerras. Atualmente, soubemos da exploração sexual que mulheres refugiadas estão sujeitas, tanto nos territórios em conflito como na Europa, para onde a maioria migra em busca de um novo recomeço.


Aqui no Brasil, infelizmente, a violência doméstica, os casos de abusos e assédios sexuais e feminicídios ainda são comuns. Mesmo com a Lei Maria da Penha e com o aumento das denúncias de violência doméstica, ainda sim, mulheres são perseguidas, coagidas e silenciadas.


Cabe a cada uma e cada um de nós seguirmos atentas e atentos e ajudarmos a denunciarmos todo e qualquer tipo de opressão que uma mulher se encontre.


Resgatemos em nós a dignidade da Mulher

Em tempo de reflexão, de Quaresma, de mudança... aproveitemos o silêncio que nos é oportuno para ouvir nossas irmãs de fraternidade, nossa mãe, tias, avós, amigas e/ desconhecidas, levantando um olhar ao redor de tudo, em que possamos enxergar para além de nós e nos aproximarmos das dificuldades e dos sofrimentos dos nossos irmãos, de modo especial da mulher oprimida, mulher negra, mulher pobre, mulher que sofre e/ou sofreu abuso sexual e/ou violência (seja ela qual for). Que nessa oportunidade ensaiemos novas possibilidades e, em fraternidade, nos despertemos a conhecer os clamores dessa luta que não cessa.


Permitamo-nos nos questionar: quantas mulheres estão na minha comunidade/paróquia? Quais movimentos, pastorais ou serviços elas assumem? Elas se sentem valorizadas, ouvidas? É preciso mudar em algo? O que é preciso mudar? Que atitudes e posturas são necessárias para a promoção e a vivência de relações mais justas, igualitárias e de paz? Como se constrói relações de paz dentro de casa, do trabalho, na Igreja, por exemplo?


Na luta pela igualdade a mulher deve conhecer seus limites, pois não basta ser somente igual em seus direitos ou deveres, não basta mudar a linguagem, é preciso mudar, transformar as relações, as atitudes, a consciência, a mentalidade. Lembremos de ser um pouquinho de todas essas mulheres mencionadas e tantos outros exemplos que fica impossível de listar (Santa Clara de Assis, Dorothy Stang, Zilda Arns, Chiara Lubich, Irmã Dulce, Madre Teresa, Maria Quitéria, Maria da Penha, Anita Garibaldi, Malala Yousafzai, Nina Simone, Harriet Tubman, Frida Kahlo, Dandara, Joana D’Arc, etc).


Sob a proteção da Santa Mãe Maria e intercessão de todas as santas da Igreja Católica e mártires da caminhada do povo, reconheçamos em nós, mulheres, o papel de ser protagonista em todos os lugares e agentes de transformação em uma sociedade injusta e desigual, falando por todos os povos. Que o amor genuíno e o cuidado leal com o outro, que nos é peculiar, seja fraterno ao semelhante e ao distante.


Nesse dia tão especial, o Secretariado Fraterno Regional preparou um vídeo trazendo mensagens com o rosto das Mulheres que fazem ou fizeram a Jufra do Brasil do nosso Regional Ceará-Piauí. Que esse dia 8 de Março seja lembrado por todos nós como um dia de luta e memória a todas as mulheres. Veja o vídeo clicando aqui.


Paz e Bem!


Clique aqui e leia a carta na íntegra

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¹ Consideramos ‘contexto histórico’ o marco da data, não as ideologias sócio-políticas da época.
² Autoria de Hannah Jook, JUFRA - Secretária Fraterna Local – Jufra Aliança de Assis, Fortaleza/CE.




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