A palavra
Quaresma vem do latim ”quadragésima”. Esse tempo litúrgico compreende os dias
que vão da Quarta-feira de Cinzas até Quinta-feira Santa antes da missa da Ceia
do Senhor. O número 40 é simbólico e recorda muitas cenas da Bíblia: os 40 anos
de caminhada do povo hebreu pelo deserto, os 40 dias que Moisés passou na
montanha, os 40 dias de caminhada de Elias para chegar à montanha do Senhor, os
40 dias de Jesus jejuando no deserto.
A Quaresma não tem sentido isolada da Páscoa. Na caminhada quaresmal não vamos
ao encontro do nada ou da morte, mas caminhamos para a Ressurreição do Senhor e
nossa.
As origens da quaresma são antigas e estão ligadas a outros acontecimentos,
como a preparação dos catecúmenos ao Batismo, e a prática das penitências,
muito em voga nos primeiros séculos. Já no século IV se fala de quaresma
penitencial; nos séculos II e III, costumavam-se fazer alguns dias de jejum em
preparação à Páscoa.
A Igreja,
neste tempo quaresmal, une-se todos os anos ao mistério de Jesus no deserto.
Portanto o espírito quaresmal é de um grande retiro de quarenta dias, durante
os quais a Igreja propõe aos seus fiéis o exemplo de Cristo em seu retiro no
deserto, e se prepara para a celebração das solenidades pascais, com a
purificação do coração, uma prática perfeita da vida cristã e uma atitude
penitencial.
As cinzas
(que são os ramos bentos no Domingo de Ramos do ano anterior) que recebemos em
nossa fronte no início da Quaresma é um sinal de que nos comprometemos com uma
verdadeira conversão. As cinzas são o símbolo da fragilidade humana,
lembrando-nos a passagem bíblica que diz que ”tu és pó e ao pó voltarás”
(Gênesis 3,19).
A
penitência, tradução latina da palavra grega “metanóia”, que na Bíblia
significa conversão (literalmente, mudança de espírito) do pecador, designa
todo um conjunto de ações interiores e exteriores dirigidas para a reparação do
pecado cometido e o estado das coisas que resulta dele para o pecador.
Literalmente, mudança de vida se diz do ato do pecador de voltar a Deus depois
de ter estado distante de Deus, o do incrédulo que alcança a fé.
A
penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura
e os Padres da Igreja nos falam de três formas: o jejum, a oração e a esmola,
que expressam a conversão com relação a si próprio, a Deus e aos outros.
Todos os
fiéis, cada um a seu modo, estão obrigados a fazer penitência pela lei divina.
Para que todos se unam na observância de alguma prática, são prescritos dias
penitenciais, que devem ser cumpridos com a maior fidelidade (cf. Código de
Direito Canônico, 1249). No tempo da Quaresma, prescreve-se jejum e abstinência
de carne na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa e, as sextas-feiras,
como memória da morte do Senhor, são momentos fortes de prática penitencial da
Igreja.
“Estes
tempos são particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as
liturgias penitenciais, as peregrinações como sinal de penitência, as privações
voluntárias como jejum e a esmola, a comunhão cristã dos bens - obras de
caridade e missionárias.” (Catecismo da Igreja Católica, 1438)
Somos chamados
a concretizar o desejo de conversão realizando as seguintes obras: indo ao
encontro do Sacramento da Reconciliação (Penitência ou Confissão), fazendo uma
clara confissão e arrependendo-nos de todo coração; superando as divisões,
perdoando e crendo no espírito fraterno; praticando as obras de misericórdia.
Os
católicos, na Quaresma, tem que cumprir o preceito do jejum e da abstinência,
assim como confessar-se e fazer sua comunhão pascal. O jejum consiste em fazer
uma só refeição ao dia, ainda que se possa comer menos do que o costume de
manhã e à noite. Não se deve comer nada entre as refeições principais, salvo em
caso de enfermidade. Obriga-se a viver a lei do jejum todos os maiores de
idade, até que tenham cumprido 59 anos (Catecismo da Igreja Católica, 1252). A
abstinência é a privação de comer carne e seus derivados, e a lei da
abstinência obriga todos os que já fizeram 14 anos. (Catecismo da Igreja
Católica, 1252)
Temos que
participar melhor deste tempo que a Igreja nos propõe dentro do mistério pascal.
Somos convidados à participação dos sacramentos, da missa, à participação nas
comunidades, nas via- sacras, nas celebrações penitenciais.
Com o tempo quaresmal,
iniciamos também a Campanha da Fraternidade que este ano nos propõe o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e o lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), a Campanha da Fraternidade (CF)
2015 buscará recordar a vocação e
missão de todo o cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e
colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico
Vaticano II.
“Será uma oportunidade de retomarmos os
ensinamentos do Concílio Vaticano II. Ensinamentos que nos levam a ser uma
Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. Sabemos
que todas as pessoas que formam a sociedade são filhos e filhas de Deus. Por
isso, os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da
sociedade estejam a serviço de todos”, comenta dom Leonardo Ulrich Steiner bispo
auxiliar de Brasília (DF) e secretário geral da CNBB.
Objetivo geral da CF – 2015 CNBB
01 - Aprofundar, à luz do Evangelho, o
diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio
Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do
Reino de Deus.
Objetivos específicos da CF – 2015 CNBB
01 - Fazer memória do caminho
percorrido pela Igreja com a sociedade, identificar e compreender os principais
desafios da situação atual.
02 - Apresentar os valores espirituais
do Reino de Deus e da doutrina Social da Igreja, como elementos autenticamente
humanizastes.
03 - Identificar as questões
desafiadoras na evangelização da sociedade e estabelecer parâmetros e
indicadores para a ação pastoral.
04 - Aprofundar a compreensão da
dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito
e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações
desumanas e violentas.
05 - Buscar novos métodos, atitudes e
linguagens na missão da Igreja de Cristo de levar a Boa Nova a cada pessoa,
família e sociedade.
06 - Atuar profeticamente, à luz da
evangélica opção preferencial pelos pobres, para o desenvolvimento integral da
pessoa e na construção de uma sociedade justa e solidária.
Fonte: Texto base da CF 2015