É Natal e a iluminação pública ganha reforço com as decorações nas árvores, prédios, postes e avenidas. O espetáculo visual é fascinante e o expectador quase não se dá conta de viver na mesma cidade... tudo parece novo e encantador! As vitrines espelham um ar de felicidade cinematográfica e o vai e vem dos consumidores desenham um turbulento e nervoso clima de compras e vendas, ofertas e atrativos para os olhares e os bolsos. O bom velhinho de barbas brancas, montado em sua carruagem puxada por renas é o grande cicerone da festa que alcança o frenesi no dia 24. Seu saco de presentes é o símbolo do insaciável desejo por presentes. Ninguém escapa do estimulo consumista que dá a sensação de um tempo feliz...
Entretanto, é possível perceber, com algum esforço, que o Natal sofreu perigosa mutação: o Filho do Altíssimo que se fez humano, rebaixado e pequeno, escondido e sem lugar em Belém, nasceu longe do centro e das badalações de seu tempo. A glória de Deus que brilhou nos arredores e despertou os esquecidos pastores que nos campos tangiam suas ovelhas. Os magos do Oriente que nada encontraram no palácio de Herodes, foram orientados a empreender nova busca, pela periferia da cidade. Entre os humanos, o Deus que se situou desconcertantemente fora do foco da sociedade de seu tempo, contentou-se, na falta de lugar, com uma estrebaria. O menino, repousado em palhas e envolto em faixas, teve por primeiro berço uma manjedoura, o comedouro dos animais, um cocho. A visita de Deus à nossa humanidade começou pelos pequenos, esquecidos e distantes. Dá o que pensar se olhamos o que foi feito do Natal, pois a distância parece ainda maior hoje...
Não precisamos abandonar a alegria pagã do comércio, tão pouco deixar de realizar o desejo de desfrutar uma farta ceia com os familiares e amigos. Depois de tudo ainda será permitido um belo passeio para ver a cidade cintilando. Nada disso vai ferir o Natal de Jesus que continua à nossa espera no lado esquecido da vida. Lá onde a manjedoura toma forma de cruz sobre as costas de algum irmão, ou onde o abandono e o sofrimento latejam sem serem notados nas esquinas, nos hospitais, sob as marquises, está a nascer o menino. É lá que brilha a glória de Deus entre os que pastoreiam as latinhas e o papelão para reciclar e o cantinho do beco para dormir. Eles prolongam e atualizam hoje a visita de um Deus que resolveu ser humano a partir das experiências mais duras e rudes da vida, "pois não havia lugar para eles na hospedaria”...
Aos paroquianos da Imaculada Conceição, um santo e abençoado Natal.